domingo, 1 de novembro de 2015

O MEDO NOSSO DE CADA DIA
DOUGLAS MENEZES
A tortura começa logo cedo. Saindo de casa já o medo estampado. Nos coletivos a expectativa de uma arma na cabeça a qualquer momento. Rotina de terror dos brasileiros e brasileiras, A vida cada vez valendo menos. A dúvida sempre se vai voltar à noite. Um país doente que expõe seu povo trabalhador ao constrangimento e ao terror da violência gratuita, além de um desemprego que disarticula o todo social e infelicita milhares de famílias e o aumento da violência tem muito a ver com isso. Um estado falido. Uma culpa geral de quem comanda, seja no município, na esfera estadual ou federal. Enquanto discutem suas querelas distantes da massa que paga impostos caros, a gente está aqui, aguentando até o que diabo enjeita. Os ajustes sempre feitos à revelia e penalizando o lado social: Educação, Saúde, Infraestrutura e Segurança, estas pagando um preço altíssimo pela incompetência e corrupção.
Sopro de esperança quase nenhum. No horizonte o vazio de lideranças que tenham verdadeiramente espírito público. Ilusão as pessoas acharem que a crise é só econômica. Não é, fundamentalmente ela é política e só será resolvida com desprendimento e sentimento nacionalista. Tudo neste país parece travado, um pedacinho de esperança ainda aparece ao ler os jornais pela manhã, a ingênua busca, com os olhos nas letras, de encontrar notícias que nos façam sair do beco, que nos conduzam ao reencontro de uma existência mais digna e menos penosa. Mas as letras e imagens criam a desilusão de que nada vai mudar e todo dia, denúncias e mais denúncias de desvio do dinheiro público, numa cantilena monótona e já desinteressante. O povo olha descrente e anestesiado por tudo o que escuta e vê.
Quisera, neste domingo ensolarado do primeiro dia do mês, fazer uma crônica dizendo de moças bonitas, de rapazes sarados e crianças brincando ao redor do mar. Ou mesmo descrever o amor como sentimento maior. Mas assustado, caminho na minha cidade quase deserta , olhando para os lados, como se essa paranóia, esse terror de ser agredido no meu direito de ir e vir, levassem, de vez, a esperança de uma nação mais humana. Um país cheio de jardins, sem flores, é o que sinto, é o que vejo.
Cabo de Santo Agostinho, primeiro de novembro de 2015.
Douglas Menezes é membro da Academia Cabense de Letras.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

THÉO SILVA: INFÂNCIA E DESENCANTO



DOUGLAS MENEZES
O que há de comum entre Théo Silva, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Raul Pompeia e Manuel bandeira, só para citar esses? A visão, muitas vezes, amarga da infância, o desencanto expresso em forma de reminiscências. A mostra maior de que a primeira idade nunca foi um momento cor de rosa que alguns insistem em pintar. A melancolia de um período que marca com a dor e os traumas que virão depois, que acompanharão o adulto para sempre.

Mas essa visão traumática e realista atesta a grandeza desses escritores. É a vida observada como consequência da soma de experiências que começam cedo. A tristeza de ver seus passos tolhidos precocemente, os sonhos tornando-se realidade frustrante.

Então, adulto já, a voz da desilusão com a existência: “Vamos saber sentir a dor que nos maltrata / A dor que mata lentamente o riso / de todo orgulho banal de viver/ Porque tudo na vida é falível / E tudo passa nesse mundo de ilusão e sofrer”.

Como Théo Silva se aproxima de Manuel bandeira no seu poema “Meu Natal de Ontem e Meu Natal de Hoje”, na linguagem simples, na expressão narrativa do texto, na tristeza nítida, sem ornamentos romantizados e trazendo a angústia sincera de mostrar já um mundo despoetizado da infância, onde os meninos pobres apenas sonhavam, sem ter: “Mas infelizmente eu fui criado na rede encardida da necessidade / Nunca tive mais que um tostão no bolso em dia de festa / Nunca ouvi falar num presente de natal / A única coisa que me contentava na vida / Era ter, todo ano na festa de São Sebastião, uma roupinha nova de marujo, mal feita”.

Théo Silva viveu no Cabo, nasceu no Cabo, terra dos canaviais, do cheiro de cana, do doce que era amargo para os meninos pobres, a maioria. E o adulto atestou isso. Num de seus poemas a lembrança que nos traz da criança num momento de peraltice. Na igreja abriu a caixinha de hóstia e comeu cinco, fato que o marcou profundamente já como adulto. A primeira idade estigmatizando o homem feito. A hóstia, no poema Superstição, não trouxe a bênção sagrada, mas a certeza de que as dores ao longo da vida é reflexo dos primeiros momentos infantis: “ Quem sabe se não foi aquilo / E parece mesmo verdade / Porque a felicidade / Vive correndo de mim”.

A obra de Théo Silva possui a marca trágica de um caminho que a Literatura dos grandes escritores procura expressar. Obra potente marcada por uma desilusão, um desencanto que parece ser algo individual, mas, na verdade, demonstra universalidade. Essa busca incessante de felicidade que o homem carrega no seu interior em qualquer lugar do planeta e que, não raras vezes, se transforma num processo de sofrimento e decadência até o final da vida: “O destino jogou-me na rua da vida / E a vida amparou-me nos braços / A ilusão se fez a minha amante trágica / E eu morri para tudo quanto foi amor”.

É importante também citar, dentro da poesia de Théo Silva, a musicalidade, a sonoridade Neosimbolista, o ritmo a serviço de uma visão solitária sobre a humanidade, a onomatopeia que lembra uma cantiga infantil, porém com o sopro da amargura adulta: “Blim blão...blim blão / Quem é que não tem na vida o sino da solidão / O badalar dentro d’alma / Quando morre uma ilusão? / Blim blão, blim blão”.

Por fim, insistamos no aspecto que achamos norteador da obra do poeta Théo Silva: a infância como combustível para uma poesia cercada pelo pessimismo, solidão e um destino fatalista que parece ser o de final trágico da humanidade: “Quem não conhece a história / Dessa velha que pediu, / Quando caiu na fogueira / ‘Bota água meu netinho’ / Mas a criança se esconde/ ( Se ia morrer na grelha!? / Pois assim é meu destino / Peço água, ele responde / Igual àquele menino: ‘ Azeite, senhora velha’ “.

Douglas Menezes, ano da graça de 2013, 6 de agosto.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

UMAS E OUTRAS: LIÇÃO DE HUMANIDADE


DOUGLAS MENEZES

Faz mais de quarenta anos que Chico Buarque gravou a canção Umas e Outras e, apesar do tempo, ela continua com a mesma atualidade humana da época em que foi lançada. Ali, Chico, um artista ainda em busca de afirmação e já tendo problemas com a censura da ditadura militar, mostrava ao país a tendência de uma obra tão vigorosa artisticamente como igualmente forte em relação ao conteúdo humanístico. Além disso, confirmava ao Brasil que sua música não se detinha apenas a questões políticas, mas que abrangia o humano, naquilo que os seres têm de mais importante: o sentido da existência aqui na terra.

O encontro de uma freira e uma prostituta numa rua da cidade é um dos pontos altos do fazer musical do compositor carioca. E a possível antítese contida no poema, paradoxo mesmo, dilui-se, no desenrolar do texto, à medida em que a identidade entre as duas se afirma: ambas sofrem com as frustrações da existência. Ambas olham-se com o mesmo olhar que a vida vazia e angustiada trouxe para elas: “ O acaso fez com que essas duas / Que a sorte sempre separou/Se cruzem pela mesma rua, olhando-se com a mesma dor”.

Na música, a evidência de que nas duas não existiu escolha. O recato forçado da religiosa, “Se uma nunca deu sorriso, que é pra melhor se resguardar”, corresponde, também, ao sorriso artificial da prostituta, “Se a outra não tem paraíso,/não dá muita importância não / Pois já forjou seu sorriso / E fez do mesmo profissão”. O destino traçou para as mulheres o elo de ligação que faltava para que tivessem algo em comum: a vida é um fardo pesado para carregar e trata de juntar a todos numa mesma dor.

Assim, a infelicidade não escolhe a quem “contemplar”. A religião, na verdade, é vista como uma fuga. O paraíso é algo incerto e talvez infernal, já que o “céu” não foi uma opção individual, mas vindo de fora para dentro, arrastando, tormenta sem fim, qualquer possibilidade de uma vivência feliz aqui no plano terreno. As duas, vítimas do todo social. As duas vendendo-se para poder suportar o viver. E cada uma a seu modo: “E toda santa madrugada / Quando uma já sonhou com Deus/ A outra triste namorada / Coitada, já deitou com os seus”.

Douglas Menezes é professor de Língua Portuguesa e especialista em Literatura Brasileira. Email: douglasmenezesnet@gmail.com

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

NA SALA DE AULA, MESTRE GRACILIANO E A INTERTEXTUALIDADE

Por DOUGLAS MENEZES

Não é fácil, hoje, estimular no estudante de nível médio o interesse pelo texto literário. Às vezes, num momento de pessimismo exagerado, achamos ser esta geração um amontoado de seres perdidos, invertendo os verdadeiros valores humanos. Um punhado de gente vazia, superficial, incapaz de analisar, por mais simples que seja, um tema, um conteúdo qualquer. Geração sem cabeça, ao sabor da instantaneidade e de ações inconsequentes. Espantosa visão apocalíptica, esta. Nesse pesadelo, como encaixar, ao menos, uma tentativa, no meio dessa massa alheia, de realização de um trabalho literário? Pensamos nós, nos instantes de negativismo insolúvel. Mundo sem saída. Resposta inexistente para a equação.

Junte-se a isto, salas abarrotadas, salários aviltantes. Omissão dos pais, preocupados, tão-somente, com o dia asfixiante na luta pela sobrevivência.

Depois, apimentando a receita do bolo catastrófico da Educação no Brasil, a tecnologia e os meios de comunicação contribuindo com informações “mastigadas”, esperando apenas a ingestão, sem maiores questionamentos, pois pensar, dói.

No entanto, o raciocínio depressivo, felizmente, vai-se dissipando e, embora não haja luz, nem sequer túnel, há aquilo que não devemos esquecer nunca: a crença em que, de uma forma ou de outra, podemos contribuir para que “as coisas” melhorem um dia. Até porque, aqui e ali, a manhã começa a chegar, tênue amanhecer pedagógico. Na certeza de fazermos dos inimigos, aliados, ferramentas de apoio. Não sermos tão retrógrados, que não possamos avançar; nem tão avançados que esqueçamos a tradição, também necessária na luta pelas ações transformadoras.

Passado o ranço da desesperança, vislumbramos a possibilidade de incutir no jovem estudante, a Literatura como objeto de seu interesse.

Se é tarefa quase hercúlea, deve, ao mesmo tempo, ser função do professor de Português não deixar o ensino da Língua tornar-se, na verdade, alvo da alienação crescente junto ao educando mais novo. Fundamental reagir, politizar de forma democrática, mas levando em consideração, a experiência a ser passada, o professor um leme, um guia que escuta, crendo entrar no caminho que julga correto. Influenciar aquele que necessita aprender e apreender de modo positivo a discernir e aprofundar conhecimentos.

Aparece, então, a primeira pergunta: é possível criar no aluno um interesse maior pela Intertextualidade, já que esse conteúdo tornou-se fundamental na compreensão do texto literário?

A Intertextualidade já existe em alguns compêndios ( que palavra! ) da Língua Portuguesa do antigo segundo grau, um pouco sistematizada, porém, ainda assim, incipiente. É como se houvesse um certo receio em mexer com o mito da originalidade autoral. Remeter um texto a um outro, matriz, na visão conservadora, pode macular as obras de alguns “monstros sagrados”. E o Ensino Médio é bastante recalcitrante nesse ponto: não gosta muito de bulir em feridas recém-abertas.

No entanto, deve-se, pelo contrário, mostrar como a Intertextualidade é apaixonante, comprovando que o diálogo entre textos não torna nenhum autor menos criativo ou plagiador, demonstrando ser a Literatura um conjunto de contribuições, de acréscimos àqueles troncos iniciais, aquilo diferente e comuns a todos os textos, na visão de que não há escritos adâmicos. Essa prática deixaria menos enfadonha a análise dos estilos literários, presa à rigidez de datas e características nem sempre verdadeiras dentro do pragmatismo do texto artístico. Há modernismo em obras do passado; bem como passado em outras modernas. A verdade é que a Intertextualidade traz maior dinamismo ao fazer literário. Retira todo o engessamento da velha teoria dos estilos de época, que devem ser estudados sempre em um vai-e-vem: passado, presente e perspectiva para o futuro.

Nessa linha, poderíamos motivar o Ensino Médio. Afastá-lo dessa concepção estática que ainda, salvo exceções, em relação à prática pedagógica da Literatura. Assim, a sonolenta concepção secular de não achar ligações entre as diversas épocas, daria lugar à criativa interação entre períodos e autores, valorizando-se, sobremodo, o diálogo entre textos. Sendo esse estudo bem conduzido, não deixaria margens à visão simplória de que tudo se imita, passando o adolescente a enxergar essa “imitação” como uma reescritura criativa de temas já produzidos, residindo aí, a criatividade maior. Seria o primeiro passo: eliminar qualquer visão preconceituosa em relação à Intertextualidade na sala de aula.

O aluno, nesse primeiro momento, deve entender a Intertextualidade como um exercício analógico, já que, provavelmente, possui ele uma experiência desse tipo durante sua vida antes da escola. Com efeito, para um principiante, atividades indicando semelhanças no diálogo entre os textos, seriam um bom começo, pois analisar teoria pelas diferenças comporta um aprofundamento não encontrado nos adolescentes.

Essencial é ativar a curiosidade do estudante, fazendo-o trabalhar uma variada quantidade de textos e de autores diferentes, ocasionando a inclusão do diálogo textual no dia a dia da sala de aula, mostrando ser algo positivo o relacionamento intertextual para a compreensão da escrita literária.

A partir daí, podemos trabalhar, com os alunos do Ensino Médio, os textos de Graciliano Ramos. Sendo bom lembrar, ser esse trabalho precedido de um conhecimento prévio sobre a Intertextualidade. Assim, para o docente, não deve parecer estranho o uso do termo, pois ele fará, constantemente, um exercício de diálogo.

Depois, os livros São Bernardo e Angústia, logo no início do ano, devem ser indicados como paradidáticos. Os alunos, assim, teriam tempo necessário de, pelo menos em um semestre, manusear as obras, havendo também, a necessidade do conhecimento biográfico do autor e alguma coisa sobre seu estilo, estabelecendo uma visão, ainda que superficial, de toda a obra do mestre alagoano. O professor é fundamental nessa tarefa, à medida que deve ser um elemento motivador na prática da leitura. A ideia geral sobre a obra de Graciliano, repito, é fundamental. Por exemplo, ao falarmos da linguagem enxuta dos dois livros em pauta, não criaremos estranheza aos alunos, veriam isto com naturalidade, como marca do artista.

Além disso, o professor pode chamar a atenção para um aspecto comum nos dois romances de Graciliano Ramos, Angústia e São Bernardo, e que, com certeza, por ser um sentimento típico do ser humano, tornará mais fácil a análise intertextual dos textos. Trata-se da presença do ciúme nos dois livros, que de resto sempre foi tema encontrado na Literatura Universal. Os dois personagens principais, Paulo Honório em São Bernardo, e Luís da Silva em Angústia, a seu modo, expressam um ciúme paranoico, que gera duas tragédias pessoais: a morte da esposa Madalena em São Bernardo, que se suicida diante da pressão do marido; e a perda da noiva Marina para o comerciante Julião Tavares, levando Luís da Silva a assassinar o rival. Todo esse processo de desconstrução dos dois personagens é seguido de uma desagregação psicológica degenerativa, sem volta e facilmente compreendida por quem faz a leitura das duas obras.

E aí, um outro romance, de dimensão grandiosa dentro da Literatura Brasileira, pode servir como mais um elemento comparativo para o estudante de nível Médio: Dom Casmurro, de Machado de Assis, a sua maneira, traz o ciúme, a desconfiança, como um dos temas centrais, havendo, nesse momento, a possibilidade, de uma análise formal entre os três livros: a mesma escrita enxuta é encontrada nas obras maiores dos dois escritores. Linguagem carregada de essencialidade. Temáticas semelhantes, abordagens diferentes, em Machado e em Graciliano, parecidos os dois, e, ao mesmo tempo, díspares, pois cada um com sua personalidade própria de escritor.

O passo seguinte e definitivo, é fazer um estudo da Intertextualidade, mostrando o dialogismo dentro da obra de um mesmo autor. Dois escritores poderiam servir de modelo nesse exercício: José Lins do Rego, na prosa, e Manuel Bandeira, na poesia. Ambos ricos em relação à Intertextualidade.

Afora isso, lembremos de outras expressões artísticas sobre a obra de Graciliano Ramos. Vidas Secas, São Bernardo e Memórias do Cárcere são livros adaptados para o cinema que, pela qualidade, acrescentam, e muito, algo mais sobre a produção do gênio alagoano. O teatro é outra expressão artística que poderia ser utilizada pelos alunos em um estudo na forma de monólogo, principalmente com relação a Angústia e São Bernardo.

Por fim, recordar a contemporaneidade do Mestre Graça. Sua atualidade, mostra, sobretudo, o autor que ultrapassou o seu tempo. Como o mago Machado de Assis, demonstrou que os dramas humanos vão além de um período histórico, inserem-se naquela visão de que grandezas e mesquinharias acompanharão o homem, independendo da época e que sempre valerá a pena estudar um artista como Graciliano, que produziu um trabalho de humanismo ímpar e que dificilmente será apagado, por ser regional, brasileiro, mas, principalmente, universal.


DOUGLAS MENEZES É PROFESSOR DA REDE OFICIAL E PARTICULAR DE PERNAMBUCO, FORMADO EM LETRAS E EM COMUNICAÇÃO SOCIAL. ESPECIALISTA EM LITERATURA BRASILEIRA E EM LEITURA, COMPREENSÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL.

EMAIL: douglasmenezesnet@gmail.com

domingo, 14 de outubro de 2012

Como é grande o meu amor por você!

 
Antonino Oliveira Júnior.*

 
Às vezes nem sei o que sinto,

Se é ciúme ou raiva;

Tu , que me tens de tanto tempo

Te entregas a aventuras,

A coisas passageiras;

E sinto raiva

Quando te vejo amorosamente caída

Em braços sem ternura;

Quando te entregas

A quem te usa e depois te descarta.

O ciúme fere-me a alma

E uma lágrima morna rola em meu rosto

E eu sofro,

Como quem vê distante um grande amor;

E relembro todos os nossos momentos

Na quietude de tempos outros

Das juras de amor eterno, da cumplicidade;

 
Não gosto de ver-te assim, como estás...

 
Sinto raiva de quem te machuca

E, ainda que, morto de ciúmes,

Queria colocar-te todinha em meu colo

E falar baixinho ao teu ouvido:

 
“Ah, minha cidade,

Como é grande o meu amor por você!”
 
Antonino Oliveira Junior é membro da Academia Cabense de Letras

sexta-feira, 1 de junho de 2012

GUERRA E PAZ ENTRE OS TRÊS PODERES



Segundo Antipatro de Sidon, as sete maravilhas do mundo antigo eram: o Templo de Artemis, as Pirâmides de Gizé, o Mausoléu de Halicarnasso, os Jardins suspensos da Babilônia, o Farol de Alexandria, a Estátua de Zeus Olímpico e o Colosso de Rhodes. As sete do mundo moderno, de acordo com o Dr.Pangloss, são: o facebook, o futebol, o funk, as telenovelas, o big-brother, o direito de permanecer calado e a pizza.

A democracia e o sistema republicano ainda não fazem parte dessas maravilhas, mas são as melhores invenções que temos para, salvo melhor juízo, usufruirmos da cidadania. Uma boa República (com "R" Maiúsculo como a nossa) é formada pela união indissolúvel das partes e fundamentada no pluralismo político. Os poderes da boa República não advêm da força, mas da independência e harmonia entre o Legislativo, o Judiciário e o Executivo, assim chamados os Três Poderes da teroria consagrada pelo pensador francês Montesquieu em "O Espírito das Leis". O Executivo tem esse nome porque é ele que faz a máquina funcionar. O chefe (ou chefa) do Executivo é uma espécie de maquinista no estrito cumprimento e desempenho do serviço público. É o executor, o encarregado de executar (no bom sentido, pois executar pode significar tocar um instrumento, cantar um bolero ou matar alguém; não é o caso!). Por que três poderes e não quatro, dois, ou nove? O ternário é o ternário, ora essa!, sempre fascinou a inteligência humana: o triângulo é a figura da geometria plana que tem o menor número de lados, o protótipo da economia de retas e de ângulos. Uma mesa, para ficar em equilíbrio, tem de ter, no mínimo, três pés (um tripé), fato que promove imediata estabilidade. A mesa de quatro pés precisa ser equilibrada em prumo e nível a custo de muita medição e lixa para não ficar bonita, mas cocha. O sistema dos três Poderes funciona como o tripé - faz o equilíbrio instantâneo pela força do Direito, sem a necessidade de ajustes aqui e cochichos ali. Se faltar ou fraquejar um desses Poderes, a república cai para “r” minúsculo e só poderá ser mantida pelo direito da força. Fragilizam-se pernas, primeiro pelo deboche e descrédito. Depois, a desmoralização. O ataque frontal é simples consequência e o bruto vence sob o aplauso do populacho. Vejam esses exemplos:

Em 2 de Junho de 1793, a população de Paris, agitada pelos partidários de Jacques Hébert, redator do Père Duchesne, cercou o prédio da assembleia, pedindo a expulsão e prisão dos deputados girondinos. Hébert pressionou o regime jacobino para instituir o Reino do Terror. O líder jacobino Robespierre (chamado “O Incorruptível”) tornou-se, com amplo apoio popular, um autêntico “executor”: sancionou execuções sumárias, condenando à morte mais de duas mil pessoas. E anunciou que a França não necessitava de juízes, mas de guilhotinas. O populacho recebeu às mancheias o que havia pedido.

No nosso século, o então Partido Social Democrata Alemão obteve grande vitória eleitoral em 1928 e formou um governo de coalizão com os partidos populares e de centro. Em 27 de fevereiro de 1933, o Reichstag (prédio do parlamento em Berlim) foi incendiado, dando ensejo ao estabelecimento da Alemanha nazista. Botaram a culpa em Marinus van der Lubbe, um estudante rebelde vindo da Holanda, e ponto final. Adolf Hitler, empossado como chanceler, incitou o Presidente Hindenburg a passar um decreto de emergência visando “manter a ordem no país”. Dessa forma, os nazistas foram consolidando o sistema totalitário. Cassados todos os parlamentares comunistas e democratas, os nazistas obtiveram maioria no parlamento onde apresentaram a “lei de Autorização” que revogava a Constituição em vigor e autorizava o governo nazista a ditar leis sem a necessária aprovação dos deputados. Em seguida, voltaram-se contra o Judiciário: os juízes foram obrigados a afirmar que "Hitler é a lei!". Com a Lei de Serviços Civis de 7 de abril de 1933, foram afastados os juízes que não estavam "aptos" a trabalhar em favor do Estado nacional-socialista. Os juízes remanescentes foram manipulados para desrespeitarem a lei em favor do nazismo de Hans Frank, comissário de Justiça e líder Jurídico do Reich. Advogados, funcionários da justiça e magistrados foram obrigados a associar-se à Liga Nacional-Socialista dos Juristas Alemães sob pena de perderem seus cargos e registros profissionais. A imprensa ficou sob o controle pessoal de Hitler, tornando-se porta-voz do governo através do propagandista Goebbels. Os partidos de oposição e os sindicatos independentes foram dissolvidos. Todos os indivíduos contrários a ideologia nacional-socialista foram presos, deportados ou executados. Isso sem falar nas teorias raciais e suas consequentes perseguições nos diversos âmbitos da sociedade. O novo Estado foi reorganizado em sociedades e corporações inspiradas no conceito de vril, o poder da raça futura. A indústria pesada recebeu incentivos para se adaptar à fabricação de material bélico. A essas manobras se seguiram-se a Sondergericht, cortes especiais compostas de juízes da confiança do partido, as cortes populares de juízes profissionais e funcionários do partido nazista, a SS e a Wehrmacht.

Num piscar de olhos...

É assim que se transforma um Executivo em poder executante – na melhor das hipóteses, o poder daquele que executa ou canta uma péssima composição musical. Na Alemanha foi Horst Wessel Lied, hino da suástica; na Itália, a Giovinezza dos camicie nere, na Rússia bolchevique, a Internazional.

Segura daqui e segura dali, e ainda insistem na exportação e importações dessas ideias de força pela força.

- Da minha parte, prefiro ouvir o brado retumbante de um povo heróico, às margens plácidas do Ipiranga, com paz no futuro e glória no passado! – sem instrumentos dissonantes soprando na hora errada e em lugares impróprios.

José Maurício Guimarães

http://zmauricio.blogspot.com.br/

sábado, 14 de abril de 2012

sexta-feira, 16 de março de 2012

SANTA MARIA ! E LA CONSOLACION? (Resistir é preciso)


Antonino Oliveira Júnior


"Na primeira noite
eles se aproximam..."

São os invasores
que nos dominam
e nos querem passivos e submissos.
E como tu os abraça!

Os teus filhos nativos
sofrem dores e pesadelos
por eles impostos.
E como tu os repudia (os filhos)

Santa Maria!
quando será "La Consolacion"
dos que saíram de teu ventre,
dos que te amam de verdade?

Em mim já não cabe essa tristeza
(cabe em alguém a tristeza do mundo todo?)
e explode a revolta do filho maltratado.

"Jerusalém, Jerusalém..."
E se nada fizermos agora
nada mais vamos poder fazer.

Antonino Oliveira Júnior é da academia Cabense de Letras

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

JOSÉ LINS DO REGO

A DOCE AMARGURA DO FINAL DE UM CICLO
BANGUÊ: A ESTÉTICA DO OCASO
DOUGLAS MENEZES

A linguagem telúrica, o conteúdo melancólico, a tristeza que paira em cada página que circunda os personagens, o apocalipse de um ciclo socioeconômico que aprofundou o capitalismo dependente do início do século vinte e aumentou a miséria do camponês, levando à falência centenas de senhores de engenhos na zona canavieira nordestina. Este o universo do escritor paraibano. Triste como o povo. Sofrido como o povo. Arte simbolizando decadência. A doce amargura do final de um período.

José Lins do Rego não só no enredo, mas na ênfase às paisagens, na formação dos personagens, buscou, na obra Banguê, evidenciar, em tudo, a dolorosa transformação das pequenas fábricas de açúcar em poderosas usinas, afirmando o capitalismo e tornando o povo mais miserável.

Analisar esse romance é também vislumbrar um painel histórico e viajar por uma época poética, fazendo-nos sentir o gosto do mel, o cheiro do açúcar, mesmo que esse cheiro e gosto sejam amargos para a gente sofrida, para aqueles que preferiam viver como escravos, porque as máquinas das usinas lhes tiraram tudo, até mesmo o “pirão” dado de esmola pelos donos de engenho.

Estudar a arte da decadência em Banguê, é fazer uma reflexão, que embora passadista, nos faz pensar no tempo de hoje. Tempo ainda escuro, injusto, concentrador de renda. Um tempo que precisamos contar e cantar com isenção, trazendo a marca de que ser omisso, é concordar com o sofrimento de uma gente que padece há mais de quinhentos anos.

Esse livro não vai morrer tão cedo, pois é vivo enquanto história e enquanto houver gente com fome. Nele, a beleza no aparente feio; a fealdade no belo apenas para os olhos.


                                           Engenho de José Lins


A doce amargura do final de um ciclo. Juntos, em sua obra, a memória e a ficção. A conotação que serve à sociologia. A transfiguração do real é, na verdade, o suporte para que entendamos sua voz. Entendamos essa realidade tão viva que ora é tratada como sociologia, ora é a mais pura ficção, cuja literariedade está, justamente, em tecer uma linguagem aproximada do tempo e espaço onde sua obra é produzida.

Injusto dizer do paraibano ser ele apenas um memorialista, um menino de engenho relaxado em relação ao ofício de ficcionista. Certo dizer que em sua obra a memória é constante. Em tudo o que se escreve há um pouco da vida do artista. Pode-se mesmo constatar: em seus livro há muito do que ele viveu, notadamente na infância. Mas inegável, também, é confirmar que O livro nos aproxima da visão de uma estética da decadência: Banguê. Nele, o tratamento dado é de uma linguagem que combina com a intenção maior: explicitar o momento decadente da zona canavieira nordestina. E mais ainda, vislumbrar a perplexidade do povo, vítima de uma fatalidade que dura séculos. Explica-se o fator econômico de forma extremamente literária. Literatura, nada mais que isso: entender a economia de uma região e de um ciclo de uma forma figurada, com personagens bem delineados, e alguns até com densidade psicológica. Injusto encontrar o autor nessa obra. A não ser no cenário vivenciado por ele na infância. Banguê é obra de ficção madura, sensível, dentro do espírito do Regionalismo Moderno, notadamente no discurso oral da linguagem, que nos aproxima da fala do homem comum. O livro, uma música. A sinfonia do melancólico. Um canto que nos faz sentir o cheiro da cana, o doce do melaço, o gosto sensível dos frutos daqui. E que, ao mesmo tempo, nos traz o aroma de suor do pobre homem do eito.

O odor acre do sangue derramado, daqueles que fazem a riqueza dos outros e não têm nada. O perfume nauseabundo das crianças amarelas e famintas, sujas no corpo, exalando a diarreia que a fome e os vermes entranharam em suas vidas; elas limpas na alma, essas crianças, porém.

A verdade é que, em Banguê , a tristeza é a tônica. O autor, obcecado em fixar a decadência de um período, deu unidade temática ao romance. O desânimo contagia a obra. Desânimo intencional que não tira o vigor do livro. Os seres principais envolvidos no enredo evidenciam a postura ideológica de José Lins do Rego. , Carlos Melo, José Paulino, entre outros, são agentes sociais, são a fala do autor, são os pensamentos vivos de quem nasceu e viveu grande parte da existência naquele mundo regional, tão particular, mas, porque as dores do homem estão em todo canto, ao mesmo tempo universal. Miseráveis e injustiçados são vítimas em qualquer lugar do mundo.

Há de observar-se no romance além do aspecto triste, o lado telúrico, inconfundível, e o colorido que dá movimento à tristeza da história, além de um brasileirismo calcado na paisagem canavieira, no monótono arrastado do carro-de-boi, no “banzo” presente em tudo. Isto fez o crítico Otto Maria Carpeaux afirmar: “José Lins é brasileiríssimo. Grande Literatura. São os seus romances um grande momento. Os historiadores do futuro aproveitar-se-ão desse documento para reconstruir todo um mundo. Essa obra não morre tão cedo. É eternamente triste como o povo. É o trovador trágico da província”.

O bafejo de morte que ronda o livro nos leva a um mundo que, ao contrário, é só vida. Isto porque o fatalismo ali encontrado nos remete à luta instintiva pela sobrevivência. Locomovem-se, os personagens, mesmo caminhando para um final anunciado, para um futuro de aniquilamento.

O que entendemos, então, é que a estética da decadência só foi possível ser evidenciada por conta da espontaneidade da linguagem, sem a qual o mundo expresso perderia sua autenticidade. Por isso, a obra de José Lins do Rego é vista como algo instintivo, natural, fluente, melancólico, triste, saudoso, passadista, poético. E Otto Maria, em um prefácio de Fogo Morto, vem colocar foros de verdade no que dissemos até agora: “A obra de José Lins é ele mesmo. É profundamente triste. É uma epopeia da tristeza, da tristeza da sua terra e da sua gente, da tristeza do Brasil. Na tremenda saúde física de José Lins do Rego há a consciência desesperada de todas as doenças possíveis e da morte certa. Há na sua obra a consciência de que tudo está condenado a adoecer, a morrer, a apodrecer. Há a certeza da decadência dos seus engenhos e dos seus avós, de toda essa gente que produziu, como último produto, o homem engraçado e triste que lhe erigiu o monumento. É grande Literatura”.

Um outro aspecto em Banguê, que facilita a compreensão da intencionalidade do autor em fixar o mundo decadente dos engenhos ou o fim desse mundo, é o fato do escritor ser um contador de histórias, um dos últimos. A linearidade de sua narrativa está em extinção. Hoje se busca um texto mais complexo e introspectivo. É como se o seu modo de contar morresse com os engenhos e a derrocada dos personagens.

A visão de decadência, no entanto, nos aparece nítida nos personagens marcantes no romance. É tese confirmada. São eles, os seres criados e evocados que completam o conjunto final de um ciclo. Em Banguê, dois deles sintetizam o tom sepulcral. A hora da morte, o lutar em vão pela continuidade do que está irremediavelmente perdido. José Paulino é o patriarca do final dos tempos. Os banguês tragados pelas usinas, mecanizadas, trazendo o progresso e o desemprego para milhares de camponeses semiescravos, mas, ainda assim, com seu pedaço de terra do engenho para plantar o que comer. Sintomático, logo no inicio da história, a constatação do personagem-narrador Carlos Melo, como uma cortina se abrindo, desnudando uma realidade sem fantasia, sem romantismo, doce amargura: “ O meu avô passava no quarto sem olhar. Na mesa não tinha mais aquela alegria de outrora. Falava da seca, do algodão em baixa, tudo o que não me interessava de perto”.

Deprimente Carlos Melo na confissão exageradamente humana. Poeticamente humana. Sensivelmente humana. Tão a gosto de José Lins do Rego: “ Ele era tudo para mim. Amava-o imensamente, sem ele saber. Via a sua caminhada para a morte, sentindo que todo o Santa Rosa desaparecia com ele”. E a frase que é uma sentença: “ Começava a sentir a decadência do meu avô”.

E como todas as histórias de fim de tempo, também essa traz reminiscências: “ Nos outros tempos, o velho José Paulino não parava, a gritar para todos os cantos. Montava a cavalo para ver o corte, gritava para os carreiros, para os maquinistas, mandava recados para o mestre de açúcar, para os caldeiros. Nada lhe parecia feito, tido ainda dependia de suas ordens. Comia depressa e saia para sua torre de comando, que estava em todos os lados do seu navio”.

E como os personagens de José Lins do Rego são fortes na incessante busca do passado! Na lembrança de que o bom já passou, recordando Chico Buarque no início de carreira. Um Realismo romântico. A evidência: hoje é o ruim, o pior está para acontecer. O progresso esmaga a esperança, e o refúgio é o pretérito recente, presente, como um passado atual. O neto que vai fracassar, e, num átimo, volta ao presente e pressente o início do fim: “Quando passava pela porta do meu quarto, eu sentia que com ele se ia todo o velho José Paulino. Tio Juca falhara, e os netos não davam para nada . E a morte rondava-lhe a cama de couro. Oitenta e seis anos já eram um fim de vida. Mas o via de longe, dormia a noite toda, acordava de madrugada, andava por toda a parte. Não me iludia, entretanto, com essa resistência. Um dia ou outro, cairia” (Banguê).

O que se nota é que nem toda a dignidade do coronel José Paulino consegue trazer um fio de esperança para que algo de bom aconteça no ambiente do romance. O envelhecimento do modelo econômico é o envelhecimento do patriarca. Sua morte não possui a glória dos heróis que parecem morrer felizes. Ele, uma árvore desfolhada pelo tempo, fragilizada até a raiz, pois os seus não continuam sua obra. Os herdeiros representam o fracasso. O neto, pusilânime, não consegue dominar os miseráveis que o coronel conseguira trazer sob domínio, a flor e ferro. Árvore que cai, porque a raiz está apodrecida, carcomida pelo atraso.

Carlos Melo fracassa em tudo: na profissão, no amor, no comando do engenho. Mas ele é apenas a peça de uma engrenagem já enferrujada. O rolo compressor do novo momento econômico o arrasta, como a todos. É o progresso do subdesenvolvimento, onde a máquina que facilita a produção, aumenta a desigualdade entre os homens, concentra a riqueza e faz a vida mais sofrida, principalmente para os eternos párias do campo. Melhor ser escravo de Zé Paulino, a ser expulso de suas casas pela usina. Esta a lógica da inconsciente massa de camponeses do início do século vinte. Assim, o personagem- narrador de Banguê entrança-se no emaranhado de uma teia sem fim. Labirinto de saída inexistente. Resta a fuga. O desaparecer em busca de um lugar: o esquecimento.

Em Banguê, infeliz, sempre, o destino dos personagens verticais. Todos caminhando para o vazio.

E o romance, no final, atesta, de modo poético, que todos os personagens ou “viajam” para a morte, ou fogem a lugar nenhum. A síndrome apocalíptica de uma época atinge a todos, mesmo os que se beneficiam da derrocada dos outros. Exército de infelizes: ricos e pobres.



DOUGLAS MENEZES É FORMADO EM LETRAS PELA UNICAP E EM COMUNICAÇÃO SOCIAL PELA UFPE. PROFESSOR DAS REDES OFICIAL E PARTICULAR DE PERNAMBUCO. PÓS GRADUADO EM LITERATURA BRASILEIRA, PELA FAINTIVISA E EM LEITURA, COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTO PELA UFPE. É MEMBRO DA ACADEMIA CABENSE DE LETRAS.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

ABERTAS INSCRIÇÕES PARA O CURSO DE GESTÃO EM RESTAURO


Estão abertas as inscrições para 12ª Edição do Curso de Gestão de Restauro e Prática de Obras de Conservação e Restauro do Patrimônio Cultural oferecido pelo CECI em parceria com Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.

O Curso é uma iniciativa pioneira no Brasil para capacitação e aperfeiçoamento de profissionais e interessados em atuarem no campo preservação, com foco em execução de obras e serviços em edificações culturais.

Desde sua primeira edição, o curso vem oferecendo aos participantes o contato direto com as práticas tradicionais e as técnicas mais avançadas sobre as habilidades de um gestor nos âmbitos conceituais, técnicos e humanos, para que se constitua a necessidade de se romper com paradigmas e dogmas.

Nessa edição, além da grade regular do curso, é oferecido, ao participante à oportunidade de um aprofundamento complementar, à escolha do aluno, em técnicas específicas de intervenções nas áreas de cantaria, pintura, metais ferrosos e não ferrosos, azulejos históricos, estuque, finto-mármore, esculturas de madeira e ladrilhos e mosaicos.

O curso possui carga horária de 390 horas/aulas e está dividido em módulos: Módulo Virtual, realizado por meio da tecnologia de EAD/Ensinar/Virtus-UFPE (Ensino à Distância) e Módulo Presencial, através de método pedagógico de interação direta entre aluno, professor, mestres de ofícios e artesãos-operários num encontro de um mês (30 dias) numa cidade histórica de Pernambuco e viagem de estudos. Em caso de o aluno fazer as disciplinas optativas, a carga horária final totalizará 480 horas.

Estão disponíveis apenas 30 vagas e as inscrições já podem ser feitas através do site www.ceci-br.org.

Para mais informações, entre em contato: +55 21 81 34393445 ou 34291754 ou através do e-mail: restauro@ceci-br.org

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Manuel: Essa Bandeira Pernambucana

Douglas Menezes

Relendo outro dia a obra de Manuel Bandeira, voltei a impressionar-me com o conteúdo humano do trabalho artístico do poeta pernambucano. Não que pairasse sobre mim alguma dúvida em relação à qualidade poética desse recifense maior. Digo mesmo que todo brasileiro sensível deveria ler a poesia de Bandeira. O que afirmo, no entanto, cheio de encantamento é que o seu legado, repleto de humanidade, traz, sobretudo, uma atualidade que não sente a passagem do tempo. Isto porque há, hoje no mundo, um novo sopro de humanismo fazendo frente ao desregrado materialismo tecnológico.

Em Bandeira, a fusão simplicidade, conteúdo profundo e ternura humana são uma constante. Mesmo nos poemas intimistas onde o poeta deixa transparecer sua solidão, sua tristeza por não ter sido um homem comum, não se encontra gestos de revolta, mas de resignada melancolia: “Vi uma estrela tão alta! / Vi uma estrela tão fria! / Vi uma estrela luzindo / Na minha vida vazia”.

Tuberculoso desde jovem, solitário, mas muito respeitado, sempre esperando morrer no próximo mês, Bandeira possuía um senso de amor às pessoas muito raro. Um humanismo que só os grandes espíritos atingem na passagem aqui pela terra. E esse carinho foi expresso, principalmente, em relação a seres humildes, a pessoas anônimas, que não são notícias: “Irene preta / Irene boa / Irene sempre de bom humor. / Imagino Irene entrando no céu: / - Licença, meu branco! / E São Pedro bonachão;/ -Entra, Irene. Você não precisa pedir licença”.

Manuel foi um solitário, solidário aos outros. Cantou o amor que não teve. Cantou a mulher que não possuiu. Mas inventou palavras para ela: “Beijo pouco falo menos ainda. / Mas invento palavras/ Que traduzem a ternura mais funda / E mais cotidiana. / Inventei, por exemplo, o verbo teadorar. / Intransitivo: / Teadoro , Teodora”.

A solidariedade social também está presente em sua obra, como forma de denunciar a miséria , a injustiça e a grande dívida social deste país para com os pobres: “ Vi ontem um bicho/ Na imundície do pátio / Catando comida entre os detritos. / Quando achava alguma coisa, / Não examinava nem cheirava: /Engolia com voracidade. / O bicho não era um cão, / Não era um gato,/ Não era um rato. / O bicho, meu Deus, era um homem”.

No seu grande texto confessional, a visão da vida que queria ter, e não pôde. Mesmo ali, nada de revolta e sim, uma fantasia, a criação de um mundo hipotético, como se não quisesse incomodar o próximo com sua dor real:”Vou-me embora pra Pasárgada/ Aqui eu não sou feliz/ Lá a existência é uma aventura/ De tal modo inconseqüente/ Que Joana a Louca de Espanha / Rainha a falsa demente / Vem a ser contra-parente / Da nora que nunca tive”.

Enfim, não cabe aqui, em poucas linhas, dizer do valor que possui, por ser portentosa, grandiosa, a Literatura de Bandeira. Isto é apenas um tributo humilde.

A poesia de Bandeira, na verdade, é diamante. É um sol que não se apaga. É lua cheia sobre o mar. Um acalanto que nos faz dormir. Um céu cheio de azul. Os olhos verdes da moça, confundindo-se com o canavial. É a fruta doce deste lugar. Pois ele, Manuel, afinal, é a Bandeira maior de Pernambuco.

*Douglas Menezes é professor, escritor e da Academia Cabense de Letras.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

HISTÓRIA DE PERNAMBUCO MAIS ACESSÍVEL


Um convênio firmado entre a Biblioteca Nacional, a Academia Brasileira de Letras e o IAHGP permitiu que cerca de 30 mil páginas de documentos históricos de interesse para Pernambuco fossem digitalizados e microfilmados. Estes documentos pertencem ao acervo da Biblioteca Nacional e foram produzidos entre os séculos XVI e XIX. A iniciativa partiu do Associado Roberto Cavalcanti e foi levada a cabo com o apoio da Academia Brasileira de Letras, presidida atualmente pelo pernambucano Marco V. Vilaça. As cópias em suporte digital e em microfilmes foram entregues à Presidente do IAHGP, Dra. Margarida Cantarelli, em solenidade realizada no Rio de Janeiro no passado dia 30 de agosto. Também foi produzido um catálogo dos documentos. Em breve será possível consultar todo este material no IAHGP e on-line pelo site da instituição.

Atenciosamente,
Equipe IAHGP

Acesse: http://www.institutoarqueologico.com.br/

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

REFLEXÕES DE MULHERES ILUSTRES



"Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores."

Cora Coralina, poetisa


" Há dois tipos de pessoas: as que fazem as coisas e as que ficam com os louros. Procure ficar no primeiro grupo: há menos competição lá."

Indira Gandhi, estadista


"Aprendi com as primaveras a me deixar cortar e voltar inteira."

Cecília Meireles, poetisa


"Amor é como mercúrio na mão. Deixe a mão aberta e ele permanecerá: agarre-o firme e ele escapará."

Dorothy Parker, escritora


"Ninguém pode escolher como vai morrer ou quando. Só podemos decidir como viver para que não tenha sido em vão."

Joan Baez, cantora


"Dai-me, Senhor, a preserverança das ondas do mar que fazem de cada recuo um ponto de partida para um novo avanço,"

Gabriela Mistral, poetisa


"Não tenho tempo de desfraldar outra bandeira que não seja a da compreensão, do encontro e do entendimento entre as pessoas."

Elis Regina, cantora


"Quando nada é certo, tudo é possível."

Margareth Drabble, escritora


"Quem não sabe chorar de todo o coração também não sabe rir."

Golda Meir, estadista


"Nada na vida deve ser temido, somente compreendido. Agora é hora de compreender mais para temer menos."

Marie Curie, física


"Quando precisar que algo seja dito chame um homem. Quando quiser que algo seja feito chame uma mulher."

Margareth Tatcher, estadista


"Vamos! Corra a fazer alguma obra de caridade!"

Santa Terezinha, quando notava tristeza nalgum semelhante



" Ri, alegremente e o mundo rirá contigo: chora e chorarás sozinho. Esta velha e boa Terra precisa pedir emprestada qualquer alegria, porquanto já tem aborrecimento de sobra."

Ella Wilcox, poetisa


"Amor não tem nada a ver com o que esperas conseguir, apenas com o que esperas dar: quer dizer, tudo."

Katharine Hepburn


"O fanático é um homem com os dois pés plantados firmemente nas nuvens."

Eleanor Roosevelt


"Quando uma porta da felicidade se fecha, outra se abre. Muitas vezes ficamos tanto tempo a olhar para a porta fechada que não vemos a que se abriu."
 
Helen Keller

Nota: cega, surda desde bebé, Helen tornou-se educadora e advogada. Revelou uma incrível capacidade de superação e notável inteligência .



"O futuro não traz nem nos dá nada, Nós é que, para construí-lo, devemos dar-lhe tudo."

Simone weil, filósofa e ativista


" Não devemos permitir que alguém se afaste de nós sem se sentir melhor e mais feliz."

Madre Teresa de Calcutá

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

DEPURANDO AGOSTO

Douglas Menezes

Juliana não nasceu em julho. Agosto prenuncia a primavera. Os ventos fortes não só movem moinhos, mas afastam os males todos da vida. Assim é Agosto de Mauro poeta Mota, poeta maior. Frio caloroso, como abraço infantil. Nas vozes da descrença, a crença otimista em “quando setembro chegar”. Na lembrança do menino velho os ensaios alegres para o Sete de Setembro, manhãs cheirosas na estrada de Barreiros. Também em Agosto, o segredo da primeira paixão, nunca revelado, a voz do alumbramento inicial, na frase que foi uma senha: “Como você é tímido!” Também em Agosto o olhar peixinhos no canal que corta o Epitácio Pessoa. Ela junto, também em silêncio. Recolhimento que sempre marcou o menino retraído.

Agosto dos meus sonhos de futuro, nem sempre realizados. Agosto que trouxe o título ao meu time dez anos depois. Agosto de dona Tereza, a mãe, e do irmão. Também do menino ansioso nas noites anteriores às manhãs radiantes das filmagens do filme O Progresso do irmão Roberto, nos canaviais ainda doces do Cabo dessa minha infância. O menino ator, junto com a prima Marisa. O menino sentindo-se valorizado em mais um sonho que não se fez verdade. O menino de rumo incerto, com medo de papafigo e alma de outro mundo se imaginava ator, e Agosto fez isso.

Agosto é bom. É só querer que seja. Nele, os primeiros acordes de violão mal tocado. Nele, a algazarra dos adolescentes no retorno ao aprendizado das aulas. Chuva pouca, em Agosto, com cheiro de terra molhada e fruto verdoso. Mês do gosto maior, na abertura do sol brilhante de meses. Nunca tempestuoso. Enseada agitada, um pouco, preparando a tranquilidade acolhedora dos corpos morenos.

Nele, o destemor das chuvas. Nele, o reconstruir de julho, voz de esperança dos que perderam tudo. Agosto sem o céu carrancudo dando carão na gente. Agosto dos namorados sem guarda-chuvas, já nas praças colorindo a vida. Agosto branco, puro, depurado, anunciando a primavera.

Agosto de 2011.

*Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

REFLEXÃO

“A ilustração é a saída do homem de sua menoridade, mediocridade. Tal menoridade, da qual ele próprio é o culpado, consiste na incapacidade de utilizar sua inteligência, dispensando o comando alheio. A causa desta incapacidade não é um defeito da inteligência, mas a falta de coragem e decisão de utilizar, por conta própria, sua incapacidade racional.”

(Immanoel Kant)

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR: 187 ANOS



Há exatamente 187 anos, proclamou-se em Pernambuco a Confederação do Equador. O movimento foi uma reação à política absolutista de Pedro I que, em 1823, dissolvera a Assembleia Constituinte para em seguida outorgar uma Constituição que lhe garantia amplos poderes. O golpe autocrático do Imperador anulava as possibilidades de se estabelecer no Brasil um Estado liberal com equilíbrio de poderes entre as províncias, concentrando as decisões na figura do monarca e na corte carioca. O Typhis Pernambucano, periódico redigido pelo carmelita Frei Caneca, denunciava: “a massa da Província aborrece e detesta todo o governo arbitrário, iliberal, despótico e tirânico, tenha ele o nome que tiver, venha revestido da força que vier. Do Rio nada, nada, não queremos nada!”. Pernambuco que já havia se erguido contra o despotismo bragantino em 1817, voltou a alçar-se, dessa vez, pela mão de Manuel de Carvalho Paes de Andrade. Proclamou-se uma república a qual outras províncias do norte foram instadas a se unir. O pesquisador Carlos Bezerra Cavalcanti chama a atenção ao pouco destaque que a data tem tido nos últimos anos: “esta data já chegou até a ser feriado em Pernambuco, atualmente, esta terra esquece seus feitos, seus fatos relevantes e seus grandes heróis, entre eles o Frei Joaquim do Amor Divino Caneca”. Cavalcanti ressalta a grandeza da figura de Caneca. Nascido no Recife em 1779, Caneca ingressou na ordem carmelita aos 16 anos de idade e sempre se destacou pela inteligência. Verdadeiro porta-voz do grito de Pernambuco contra a tirania pagou com a própria vida pela defesa da liberdade. Por sua participação no movimento da Confederação do Equador, acabou condenado à forca, tendo sido finalmente arcabuzado em 13 de janeiro de 1825 por não haver carrasco disposto a cumprir a aviltante sentença original. Como castigo pelo movimento, o governo imperial usurpou mais da metade do território pernambucano, desmembrando a comarca do São Francisco que permanece, até hoje, provisoriamente anexada ao território da Bahia. O IAHGP presta aqui suas homenagens aos bravos pernambucanos que em 1824 ousaram sonhar com um projeto de Estado onde houvesse mais liberdade.

Do IAHGP http://www.institutoarqueologico.com.br/

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

SEXTA DE LETRAS ADIADO


A ACADEMIA CABENSE DE LETRAS comunica o adiamento do SEXTA DE LETRAS que aconteceria nesta sexta-feira, dia 5/08, quando seria prestada homenagem a MILTON LINS, membro da ACL e da Academia Pernambucana de Letras.

O evento foi adiado por conta de uma cirurgia a que teve que se submeter o homenageado, o que o impede de comparecer à Câmara de Vereadores do Cabo, onde seria homenageado. Uma outra data será anunciada pela Academia.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Médico e escritor Milton Lins receberá homenagem do presidente da APL



Por Tereza Soares

O médico, contista e tradutor pernambucano Milton Lins será o homenageado da Academia Cabese de Letras (ACL) na programação do projeto “Sexta de Letras”, que acontece nesta sexta-feira, 05 de agosto, a partir das 19h, na Câmara de Vereadores do Cabo. O palestrante será o presidente da Academia Pernambucana de Letras, Waldênio Porto, que proferirá palestra para falar não dos feitos de Milton Felipe de Albuquerque Lins como cirurgião, mas como importante escritor. Foi o melhor tradutor brasileiro em 2010, ganhador do Prêmio Odorico Mendes, outorgado pela Academia Brasileira de Letras. Milton Lins é um dos 15 membros da ACL, e pertence a entidades como Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES), Academia Pernambucana de Letras, Academia de Letras e Artes do Nordeste, União Brasileira de Escritores e a União de Médicos Escritores e Artistas Lusófonos - UMEAL. Publicou 13 livros ao longo de sua carreira, entre eles, Rimbaud em Metro e Rima, considerada um desafio entre os eruditos, e Sonetos de William Shakespeare. O Projeto Sexta de Letras está no segundo módulo e prosseguirá até dezembro com outras palestras. O espaço é aberto à população.

Tereza Soares é da Academia Cabense de Letras e assessora de Imprensa.